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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A DIFÍCIL MISSÃO DE CUIDAR


Sobre o “cuidar” Leonardo Boff, teólogo e escritor, diz: “Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”. Já Clarice Lispector, fiel a seu estilo conta: “Um amigo me chamou para cuidar da dor dele, guardei a minha no bolso. E fui”.
Que tarefa delicada é esta que compreende tantas dores e angústias, uma entrega espiritual e física quase sem limites? O diálogo abaixo expressa um pouco desta espécie de desconforto silencioso, confuso, perdido, triste:
“O que eu vim fazer aqui?
– Você pediu para ir ao banheiro, mamãe. Não estava com vontade?
– Mas, e agora que terminei, vou para lá ou eu vou para cá?”
O diálogo sensível e delicado entre Margarida Breno, 90 anos, vítima da doença de Alzheimer, enfermidade sem cura cujo principal sintoma é a perda de memória, e sua filha Romilda Breno Kiesshao, 67 anos, sua principal cuidadora, é apenas uma dentre as dificuldades enfrentadas pelas famílias quando um dos seus membros, por súbito acidente ou doença, se vê totalmente dependente. Nesses casos, é comum um integrante tornar-se o cuidador principal e é exatamente sobre ele que recai a maior parte da angústia e demandas da nova situação.
O cuidador sofre por diversas razões, seja enfrentar, desde situações corriqueiras até aspectos emocionais como a dificuldade de lidar com a dúbia emoção gerada pela presença de uma pessoa diferente do que era antes da doença: “Ele passa por uma espécie de luto”, explicou à ISTOÉ Emilie Godwin, terapeuta especializada em demandas do cuidador da Universidade de Virgínia (EUA). “Precisava parar para dar novo sentido à nova situação, mas existe uma forte demanda do presente.”
Além dos cuidados com o paciente, o cuidador ainda tem de dar conta da sua própria rotina, não raro eles adoecem junto com o doente.
Que me perdoe a grande Clarice Lispector: não há como “guardar a nossa dor no bolso” para cuidar do outro. Nesta relação, trilhamos uma mesma via de duas mãos de direção. Assim, nos tornamos “um”. Talvez por isso as consequências sejam tão delicadas.
Para isso, precisamos contar com a presença constante e ininterrupta de um cuidador  que no caso dos mais abastados, pode ser um ou mais profissionais contratados. Mas, na grande maioria dos casos, é mesmo um familiar que desempenha esta função.
Ocorre que, esse familiar, ao longo do tempo, vê-se obrigado à difícil escolha de abdicar dos estudos, da carreira profissional, emprego, enfim, de tudo, para dedicar-se ao portador da patologia.
Não é raro verificar casos em que, anos depois, quando o parente portador já não se encontrar mais entre nós e sua minguada aposentadoria por invalidez (quando há) cessa, aquele cuidador, já em idade avançada, que abriu mão de sua capacitação e vida profissional, passa, ele próprio, à condição de dependente de outros, por não ter mais como recomeçar a vida num mercado de trabalho tão competitivo quanto o brasileiro.
Dessa forma, é urgente que o Brasil acorde para a necessidade de uma  política pública para os cuidadores familiares, como a que já existe, há muito tempo, em vários países da Europa.
Ao contrário do que possa parecer inicialmente, esse tipo de política não atende apenas aos interesses dos portadores de patologias progressivas e incapacitantes e seus familiares, mas a toda a sociedade, na medida em que um paciente cuidado em casa onera menos o já deficitário serviço público de saúde e, consequentemente, o bolso de todos.
É hora, portanto, de nos unirmos em torno de mais esta bandeira. O momento me parece bem oportuno já que, a cada novo governo, renovam-se as esperanças de novos olhares, posturas e ações.

Fonte parcial: blogsaudebrasil.com.br 
Fonte parcial: portaldoenvelhecimento.org.br/noticias/cuidados